CENTERING THE VOID
O vazio primordial.
Original.
O vazio é um espaço
sem dimensão. A dimensional. Sem espaço ou tempo. É um conceito que se situa
fora do próprio espaço e do tempo. Fora do próprio pensamento.
O vazio é um
conceito que se contrapõe a cheio. O nada que se opõe a tudo. O Zero que se
opõe a Um. O vazio é o Zero Potencial. Potencial de conter tudo.
Antes de haver o
que quer que seja, existia o vazio. Infinito. Sem dimensões. O espaço branco do silêncio.
O verdadeiro vazio
reside num céu sem estrelas. O buraco negro. O vazio que suga toda a luz. O
vazio é um silêncio negro.
Neste silêncio,
neste espaço negro, pequenas gotículas de poeira começam a aglomerar-se criando
uma espécie de centro gravitacional, centro este que vai crescendo aos poucos,
vai ganhando luz e intensidade. Um ponto branco irrompe na noite.
Paralelamente,
centenas de milhar de gotículas de poeira configuram centenas de milhar de
pontos enchendo o universo de pontinhos de luz.
Aos poucos começam
a configurar-se pequenos aglomerados de pontos que continuam a multiplicar-se,
espalhando-se por todo o lado, enchendo o espaço de luz. E cada ponto de luz gera
uma cintura em sua volta que se vai estratificando em nódulos de variados
tamanhos e cores.
A textura está
completa. O desenho terminado.
E a folha branca
ocupa todo o espaço conceptual. O pó de grafite cai sobre a folha branca
deixando pequenas marcas aleatoriamente sobre toda a superfície. Um lugar retém
grande parte destas marcas. Configuram um ponto. Mesmo no centro da folha.
Alguma força
impercetível conduziu estes despojos de grafite a condensar-se no centro da
folha. O ponto negro marca o centro. No vazio branco do silêncio. Como um ruÍdo
forte e curto. Paah! Uma espécie de tiro na noite. No silêncio da noite.
Este ponto branco,
apesar de aparentemente estável no centro da folha, trás consigo todo um
conjunto de tensões que se podem quebrar a todo o momento. É como se este ponto
estivesse esticado por cordas de igual resistência a partir dos quatro cantos.
Se uma destas cordas se parte, todo o equilíbrio desaparece.
Tudo está em
perfeito equilíbrio. Em perfeita harmonia. Mas é uma harmonia vibrante. Nada
calma. É um equilíbrio em tensão. O verdadeiro equilíbrio, a verdadeira
harmonia é quando não há tensão. Quando as forças coexistem harmoniosamente
entre si. Sem conflito. É como a folha branca. Dentro dos seus limites todas as
forças estão em perfeito equilíbrio. Todas as tensões estão perfeitamente
doseadas e equilibradas.
Este ponto negro no
centro veio desestabilizar toda a harmonia. Agora reina a tensão. A guerra
entre os 4 cantos. Da folha. Do mundo. Este ponto negro está preso aos 4
cantos. Da folha. Do mundo. Nervosamente.
Como forma de
nivelar as tensões que sustentam o referido ponto negro, redimensionamos a
folha, o espaço que o ponto ocupa: fazemos o comprimento igual à largura. Neste
momento, o ponto estabiliza as suas tensões com os quatro cantos, esticando
mais cordas para cima e para baixo e para os lados. Desta vez, o ponto fica
seguro por oito cordas, o que só aumenta a tensão interna do ponto. Parece mais
estável, mas as tensões interiores que o prendem à estabilidade, são cada vez maiores.
Criamos então um
circulo em torno do ponto. Aliviamos as tensões, ficando estas distribuídas por
toda a superfície do circulo. O ponto autoencerra-se dentro de uma bolha. A
ilusão do equilíbrio parece perfeita. Mas as tensões que se criam dentro da
esfera vão crescendo. Crescendo. Até não restar nada mais do ponto central.
"The Center", fotografia, 2021 |
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